Após o sucesso de Apple Cider Vinegar, da Netflix, a revista Wonderland conversou com a atriz australiana sobre seu papel na série de Samantha Strauss, que é ao mesmo tempo revoltante e instigante.

Confira a tradução logo abaixo:

Quando Alycia Debnam-Carey se conecta com a Wonderland – em uma manhã ensolarada da Califórnia, bem diferente do nosso fim de inverno nublado em Londres – ela está se recuperando de um fim de semana digno de um roteiro de Hollywood: glamour, conversas sobre a indústria e festas pós-Oscar. Exatamente onde ela deveria estar, considerando o imenso sucesso de seu papel mais recente na série Apple Cider Vinegar, da Netflix, criada por Samantha Strauss. O brilho dos holofotes não é novidade para a atriz nascida em Sydney, mas isso não significa que ela esteja imune a momentos de deslumbramento. “Jane Fonda no palco. Eu não cheguei a conhecê-la”, ela ri. “Mas se eu tivesse, provavelmente teria congelado.”

Apple Cider Vinegar se tornou uma das séries mais comentadas dos últimos meses. A produção de Strauss leva o público por uma jornada intensa ao contar a história de Belle Gibson (interpretada por Kaitlyn Dever), uma influenciadora australiana de bem-estar e empresária que, por volta de 2013, ganhou fama ao afirmar que estava controlando e vencendo um câncer cerebral por meio de um estilo de vida saudável. Com um aplicativo de sucesso, livros best-sellers e uma marca consolidada, Gibson construiu um império e abriu caminho para uma nova era de influenciadores de bem-estar — até que, em 2017, foi revelado que toda a sua história era uma farsa e que ela nunca teve câncer.

Alycia Debnam-Carey fala sobre o que significou interpretar Milla Blake, a fã que se torna rival de Gibson, o brilhantismo do roteiro de Strauss e o que vem a seguir para ela.

Você foi a alguma festa pós-Oscar neste fim de semana? Como foi?

Fui sim, tive muita sorte. Também fui ao SAG Awards este ano – foi o maior evento de tapete vermelho em que já estive, e foi incrível. É realmente um evento feito para os atores. Foi um daqueles momentos em que me dei conta: “Meu Deus, somos todos iguais”. Todos estavam muito felizes por estar lá e genuinamente animados por terem seu trabalho reconhecido e apreciado.

Você ainda se sente deslumbrada nesses eventos?

Com certeza. Jane Fonda no palco! Eu não a conheci, mas se tivesse conhecido, provavelmente teria congelado. E se algum dia eu conhecer George Clooney, acabou. Podem me enterrar na terra.

Este é um momento muito empolgante para você, com a série finalmente lançada. Como tem sido desde a estreia?

Tem sido muito empolgante, superou muitas das minhas expectativas. Aceitei esse projeto porque o roteiro era excelente, incrivelmente detalhado e complexo. Há muito tempo não lia roteiros tão bons, então fiquei animada para participar. Além disso, era uma história australiana única que ainda não tinha sido contada: a ascensão e queda dos influenciadores de bem-estar no início dos anos 2010, um período muito específico. Trabalhar com um elenco extraordinário foi outro grande atrativo. Mas você nunca sabe realmente se algo vai ter sucesso. Já trabalhei em projetos que amei, mas que não tiveram grande alcance ou impacto. Então aprendi a valorizar a experiência de trabalhar sem focar tanto no resultado.

Dito isso, nunca tive tantas pessoas entrando em contato comigo por causa de um projeto como este. Isso tem sido incrível. E, acima de tudo, me ensinou uma grande lição: você só precisa baixar a cabeça, fazer o trabalho e continuar crescendo, aprendendo e abraçando sua criatividade. No fim das contas, tudo depende de quem está assistindo e quando – e isso está totalmente fora do nosso controle. Então, me deu essa sensação bonita de que “as coisas acontecem quando têm que acontecer”, e este é um desses momentos especiais.

Você já conhecia os eventos reais que inspiraram Apple Cider Vinegar antes de entrar no projeto?

Na época, eu estava entre os Estados Unidos e a Austrália, mas definitivamente acompanhei o surgimento dos influenciadores de bem-estar nas redes sociais. Quando a história de Belle veio à tona – o fato de que ela mentiu para o público por tanto tempo – eu conhecia o caso, porque foi um grande escândalo na cultura pop e algo muito impactante na Austrália. O que me chamou atenção foi a maneira como Samantha Strauss encontrou um ponto de vista único nos roteiros. Não era apenas sobre a história de Belle; ela queria criar um personagem que fosse uma fusão de várias pessoas, explorando o que levaria alguém a sustentar uma mentira por tanto tempo e construir essa fachada. Além disso, a série aborda toda a indústria do bem-estar e da saúde. Acho que muitas pessoas ficaram impressionadas com a forma incrivelmente complexa como isso foi retratado, especialmente através de quatro personagens femininas. Sam é uma das minhas roteiristas favoritas, ela é simplesmente fenomenal.

Como você se preparou para esse papel? Houve materiais de pesquisa específicos ou você criou sua própria história de fundo para a personagem? Como eram seus dias de preparação?

Trabalhei com a Sam quando tinha 14 anos, em um episódio de Dance Academy. Desde então, deixamos uma impressão positiva uma na outra. Então, foi uma coincidência muito bonita e inesperada nos reencontrarmos neste projeto. Ela queria que eu fizesse um teste para este papel, e acabei entrando no final do processo para tentar. Era algo que fazia sentido para nós duas. Lembro das nossas primeiras conversas sobre a personagem. Era essencial que estivéssemos alinhadas sobre sua construção. Ela faz escolhas questionáveis e disruptivas, não é necessariamente uma personagem simpática, mas eu não queria retratá-la como uma vítima. Também não queria que parecesse que ela estava sendo controlada por algo maior. Ela tem uma relação complicada com culpa e vergonha, mas também é movida por ambição e uma vontade feroz de se corrigir.

Para a pesquisa, mergulhei no universo dos influenciadores de bem-estar da época. Foi um período muito específico, nos primórdios das redes sociais, sem as regras que temos hoje. Ainda temos problemas nesse sentido, mas há mais consciência sobre os riscos. Li muitos blogs antigos, encontrei perfis antigos no Instagram e vídeos no YouTube. Um amigo meu até tinha alguns dos livros dessas influenciadoras. Naquela época, poucas mulheres dominavam esse espaço, então fiz uma investigação profunda.

Você sentiu dificuldade em se desligar do peso emocional da história? Tem alguma forma de descompressão após interpretar papéis tão intensos?

Esse foi difícil, não vou mentir. Às vezes é mais fácil, mas nesse caso foi pesado. Eu costumo tomar banho assim que chego em casa ou ouvir música para mudar meu estado de espírito. Mas essa história ficou comigo por um tempo. Só quando terminamos as filmagens é que consegui me desvencilhar completamente. Outra coisa que notei foi como essa história ressoava para tantas pessoas. Durante as filmagens, muitas pessoas compartilhavam experiências similares, porque todos nós conhecemos alguém que passou por algo assim. Isso tornou tudo ainda mais real e intenso.

Para você, filmar na Austrália teve um gostinho de volta para casa?

Foi a melhor coisa. Eu amo trabalhar na Austrália. Se você conversar com qualquer ator australiano, todos dizem que o sonho é poder trabalhar no próprio país. Temos as melhores equipes e um talento incrível. Além disso, eu podia estar perto da minha família. Há algo muito especial e intuitivo em filmar lá. Sinto-me muito sortuda por ter trabalhado em dois ótimos projetos recentemente.

E olhando para o futuro, o que vem a seguir?

Meu objetivo sempre foi fazer um filme dramático na Austrália. Não sei por que, mas quando era mais nova, minha ideia de sucesso era atuar em um daqueles filmes australianos intensos, porque foi com isso que cresci. Gostaria de participar de algo no estilo de Animal Kingdom ou de qualquer filme do Baz Luhrmann. Esse é um dos meus maiores objetivos.

Tradução e Adaptação: Nali Moura – ADCBR.

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