Para chegar às salinas do Lago Gairdner a partir do escritório da ELLE, são necessárias duas horas de voo de Sydney para Adelaide, seguidas por uma hora em uma pequena aeronave que mais parece um brinquedo de controle remoto. Para a segunda parte da jornada, a equipe de moda passou semanas pesando e reorganizando as malas, pois o avião é tão pequeno que cada quilo conta.

A tensão é palpável devido à importância da distribuição de peso, rendendo piadas sobre não jantar demais na noite anterior, seguidas de risadas nervosas. A aeronave estará repleta da coleção primavera/verão 2025 da Christian Dior, então, caso algo dê errado, eles aterrissariam em meio a um mar de tule — salvos pela Dior! E mais risadas nervosas. Mas nada disso acontece, pois estão sob os cuidados da experiente piloto Ellen Franklin, que realiza um pouso suave em uma remota estação de ovelhas, sem atropelar nenhum canguru (existe algo mais australiano que isso?).

Depois de “beijar o chão” (pode-se dizer) e mandar mensagens para seus entes queridos, o grupo segue em um veículo 4×4 por uma hora em uma estrada de terra. O cenário parece monótono, até que, após uma curta caminhada, surge uma deslumbrante lagoa branca cercada por colinas de terra vermelha. Parece surreal. Quanto mais se aproximam, mais a paisagem se expande, lembrando uma poça que escorre sob a porta do banheiro. O lago parece congelado, mas o calor é implacável — afinal, este é o deserto.

A cintilante lagoa salgada proporciona o pano de fundo perfeito para os brilhos e franjas reluzentes da Dior. Também é o cenário ideal para a primeira capa impressa de Alycia Debnam-Carey na ELLE. (Ela já havia sido capa digital no relançamento da revista um ano antes.) Pegamos a atriz australiana em uma breve visita ao seu país natal. Nascida em Sydney, ela vive e trabalha em Los Angeles há uma década, mas sempre que surge a chance de atuar na Austrália, ela aceita. Recentemente, gravou The Lost Flowers of Alice Hart no interior do Território do Norte e Apple Cider Vinegar em Melbourne e nas Montanhas Dandenong. “É maravilhoso poder trabalhar em casa”, diz Debnam-Carey. “Atuar com meu próprio sotaque e com equipes australianas foi muito especial. É um privilégio, especialmente quando a história faz parte da nossa cultura.”

Apple Cider Vinegar é uma minissérie de seis episódios baseada na ascensão e queda da primeira golpista do bem-estar no Instagram, Belle Gibson. Em 2013, nos primórdios da rede social, a jovem mãe solteira conquistou uma grande base de fãs ao afirmar ter curado seu câncer cerebral terminal com uma dieta natural, além de arrecadar fundos para caridade. Dois anos depois, tudo desmoronou quando uma investigação jornalística revelou que nenhuma doação havia sido feita e que seu câncer era duvidoso. Em 2015, Gibson admitiu a farsa — parcialmente — e sumiu.

Alycia interpreta Milla, uma influenciadora de bem-estar que realmente tem câncer e alega ter se curado com sucos e enemas de café. O seriado reforça e esclarece que certos personagens e eventos foram ficcionalizados. Milla lembra uma influenciadora real da época, mas a Netflix afirma que ela é uma junção de várias figuras daquele período.

O que atraiu Debnam-Carey para esse papel foi a exploração psicológica do desespero humano e da manipulação desse sofrimento. “A roteirista Samantha Strauss é especialista em criar personagens complexos e difíceis sem julgá-los abertamente”, diz ela. O objetivo do seriado não é absolver Belle e Milla, mas entender suas motivações. Sem essa compreensão, não há avanço.

Apple Cider Vinegar revisita o início dos anos 2010, mas não chega a ser uma obra de época, pois pouca coisa mudou. “Só mudaram os filtros e a iluminação”, brinca Debnam-Carey. O seriado também reflete sobre a medicina moderna, que muitas vezes falha em oferecer acolhimento humano, e sobre a indústria do bem-estar, que se tornou sinônimo de medicina alternativa e culpa. A retórica diz que bem-estar é um estado mental — se você não está bem, a culpa é sua.

Desde pequena, Debnam-Carey esteve cercada pela criatividade. Cresceu em Canterbury, Sydney, onde seu pai era músico de estúdio e sua mãe escrevia para programas infantis de TV. Aos oito anos, atuou no curta-metragem Martha’s New Coat e, indecisa entre a música e a atuação, estudou percussão clássica na Newtown High School of the Performing Arts. Tocou com a Filarmônica de Berlim na Ópera de Sydney e se preparava para ingressar no Conservatório de Música quando tomou sua decisão: “Vou para Los Angeles ser atriz”, declarou a seu professor. Um ano depois, ela fez exatamente isso.

Aos 18 anos, participou do reality Next Stop Hollywood enquanto tentava a sorte nos EUA. Conseguiu papéis em The Devil’s Hand, The 100 e Fear the Walking Dead, consolidando sua carreira com personagens fortes e complexos.

Agora, com Apple Cider Vinegar, ela se desafia novamente. A série poderia facilmente ser um drama sombrio sobre o câncer, mas sua abordagem lembra um feed de Instagram: colorido por fora, devastador por dentro. “Já fiz muitos papéis sombrios. Preciso parar”, brinca Alycia. “Mas sou atraída por personagens complexos. Agora, só falta uma comédia!”

A minissérie ‘Vinagre de Maçã’ está disponível na Netflix.

Tradução e Adaptação: Marina Brancher, Nali Moura – ADCBR.

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